“O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo (…) Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos. Estou convencido de que temos, dessa forma, uma chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do País. E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade conquistada com a luta de muitos milhões e milhões de brasileiros e brasileiras.”
Trecho do discurso de posse de Lula na Presidência, em janeiro de 2003.
Há “uma organização criminosa infiltrada dentro do governo federal”.
Procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, em março.
“Chegamos ao topo da hierarquia dessa organização criminosa”.
Procurador Deltan Dellagnol, em setembro, ao apresentar a primeira denúncia por corrupção contra Lula no âmbito da Operação Lava Jato, da qual é o coordenador.
Pois é. “O tempo é o senhor da razão”, profetizou Fernando Collor de Mello, que teve em seu processo de cassação Lula e o PT como seus principais algozes e se tornou um dos mais ferrenhos aliados de ambos, quando chegaram ao poder, em troca de propinas milionárias.
A “viva alma mais honesta desde país” e que prometia uma revolução ética, como indica seu discurso de posse, Lula é réu em cinco processos por corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, organização criminosa e obstrução da Justiça (ufa! Esqueci alguma coisa?). E há outras denúncias engatilhadas para serem deflagradas com a volta do Judiciário ao trabalho…
Presidente de honra do PT e seu líder inconteste, Lula está para assumir a presidência de fato da legenda, com a qual mantém profunda simbiose: ambos são cara e focinho e dependem reciprocamente para sobreviver. Sua missão é retirar do lodaçal o partido, missão que desde já se revela impossível: pois, para recompor-se das cinzas a que foi reduzido pela Lava Jato e pelas urnas, Lula e o PT têm de reconhecer seus erros e promover uma inflexão radical.
Mas nem um nem outro está disposto a isso. Pelo contrário: mantêm o discurso de que são vítimas de uma “caçada judicial”, cujo propósito é inviabilizar o retorno de Lula à presidência e a “reconquista” dos avanços sociais que Michel Temer, o “golpista” confiscou dos mais pobres (nem é preciso dizer quem foi o verdadeiro responsável por isso, mas digo: o ruinoso governo de Dilma Rousseff, que levou o país à mais profunda e prolongada crise econômica de sua história).
Em entrevista ao Estadão publicada no Natal, Rui Falcão, presidente em final de mandato do partido, reconheceu que o lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência, único meio, segundo ele, para a “reconstrução do pais” (!!!), mostrará que os processos a que responde, uma autêntica “pserseguição”, visam a impedi-lo dessa nobre missão. Vê-se, assim, que o cinismo não tem limites para esse bando.
Moral dessa história mais que imoral: a mais ousada organização criminosa de que se tem notícia – pois se travestiu de partido político para chegar ao comando do país e assaltá-lo sem escrúpulos – entregará formalmente seu comando ao mais ousado criminoso da história brasileira. Qual outro chegou à presidência da República duas vezes e colocou em seu lugar um capacho de nome feminino e que lhe permitiu continuar as ações delituosas?
Finja-se de vítima, estrebuche o quanto quiser, articule o que pretender: o veredicto de Lula e do PT já está selado:
“Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote de que a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo venceu a esperança. E agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. Quero avisar que o crime não vencerá a Justiça.“
Ministra Cármen Lúcia, em novembro, ao ratificar a prisão do então líder do PT no Senado Delcídio Amaral.
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